ENCÍCLICAS DO PAPA FRANCISCO, Comentários

Descrição: 01A publicação da encíclica “Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum”, do Papa Francisco, já tem suas repercussões no Brasil. Entre elas, estão observações de Bispos franciscanos que destacam a inspiração do Pontífice em São Francisco de Assis.
Em uma página sobre a encíclica, produzida pelo site da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, há reflexões do Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, e do Bispo de Osasco e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Bosco. Ambos defendem a importância do documento diante do atual contexto ambiental.
Dom Jaime Spengler retoma o que o Papa Francisco havia comentado no Angelus de domingo, 14, ao afirmar que a encíclica é dirigida a todos. Para o Arcebispo, este “é um documento com forte característica social”, pois aborda a questão do meio ambiente não apenas de forma intelectual, mas “toca o coração! Chama-nos à corresponsabilidade… Diante dos tantos sinais de ‘dores de parto’ diagnosticáveis na criação, somos instigados a reagir”.
O Arcebispo de Porto Alegre lembra a frase de Jesus ao Santo de Assis: “Vai e restaura a minha casa”. Segundo ele, com base nessa expressão, o Papa Francisco “nos convida e nos impulsiona a cooperarmos para deixar a ‘casa comum’ um pouco melhor para as gerações que virão depois de nós”.
Em seu artigo, o Bispo de Osasco, Dom João Bosco, cita três razões para se ler o documento, sendo a primeira delas, o fato de se tratar de uma encíclica. “Olhando para as grandes encíclicas do passado, vemos que elas não têm apenas uma repercussão imediata, mas vão produzindo frutos no longo prazo, à medida que vão se clareando os fundamentos sobre os quais está construída”, explica.
A segunda razão, de acordo com Dom Bosco, é a própria pessoa do Papa Francisco, por seu carisma, palavras, gestos, estilo simples e direto. Ele observa que “não há liderança, no mundo hoje, capaz de falar a todas as classes sociais, a todas as etnias, a todas as tradições religiosas e convocar todos os seres humanos, a não ser o Papa Francisco”.
Por fim, a terceira razão é a referência a São Francisco de Assis. O bispo de Osasco (SP) considera que “Laudato Si” faz lembrar “a “‘Carta aos Fiéis’ em que o Santo de Assis se dirige ‘a todos os que moram no mundo universo’: o imenso desejo de São Francisco de chegar ao coração de todos, para que olhassem e reverenciassem o Criador, está presente no coração do Papa”.
Em entrevista à Rádio Vaticano, o também franciscano Cardeal Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, sublinha o caráter religioso da encíclica ao defender que o homem deve cuidar da criação de Deus. “Nossa fé nos fala de como Deus criou o mundo e o entregou a nós, não para devastar e destruir, mas para cuidar, para proteger, cultivar, colher os frutos desta terra que nos foi dada. Isso tem uma dimensão religiosa, uma dimensão ética, uma dimensão humana profunda, porque todas as criaturas estão unidas. O Papa coloca isso muito bem na ‘ecologia integral’ de que fala”.
Esta também foi a explicação dada pelo Papa Francisco ao fim da Audiência geral de quarta-feira, 17, às vésperas do lançamento da Laudato Si. O Santo Padre convidou todos “à responsabilidade, a colaborar na missão que Deus deu ao ser humano com relação à criação: ‘cultivar e cuidar’ o ‘jardim’ que Ele nos deu”.




“Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum” – nos seis capítulos da Encíclica do Santo Padre um conceito concreto: ecologia integral, novo paradigma de justiça.
Francisco de Roma coloca-se na esteira de Francisco de Assis e inspira-se no Cântico das Criaturas para recordar que a terra “se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Esta terra agora, está maltratada e saqueada e ouvem-se os gemidos dos abandonados do mundo – escreve o Papa Francisco.
É preciso uma “conversão ecológica” – evidencia o Papa na sua Encíclica – uma “mudança de rumo”, para que o homem assuma a responsabilidade de um compromisso para o cuidado da casa comum. Um compromisso para erradicar a miséria e promover a igualdade de acesso para todos aos recursos do planeta.
Não à cultura do descartável
A Encíclica faz, assim, um diagnóstico minucioso dos males do planeta: poluição, mudanças climáticas, desaparecimento da biodiversidade, débito ecológico entre o Norte e o Sul do mundo, antropocentrismo, predomínio da tecnocracia e da finança que leva a salvar os bancos em detrimento da população, propriedade privada não subordinada ao destino universal dos bens. Sobre tudo isto parece prevalecer uma cultura do descartável, usa e deita fora, algo que leva a explorar as crianças, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a praticar o comércio dos diamantes de sangue. É a mesma lógica de muitas mafias – escreve o Papa Francisco.
Necessária nova economia, mais atenta à ética
Perante isto, podemos ler na Encíclica, é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a tutela da cada vida humana, porque a defesa da natureza “não é compatível com a justificação do aborto” e “cada mau trato a uma criatura é contrário à dignidade humana”. O Santo Padre pede diálogo entre política e economia e a nível internacional não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental e propõe uma nova economia mais atenta à ética.
Investir na formação para uma ecologia integral
A Encíclica sublinha que se deve investir na formação para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum que se deve administrar e não destruir. E bastam pequenos gestos quotidianos: fazer a recolha diferenciada dos lixos, não desperdiçar água e alimentos, apagar luzes inúteis, agasalhar-se um pouco mais em vez de acender o aquecimento. Desta forma, poderemos sentir que “temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo e que vale a pena sermos bons e honestos”. A Encíclica convida, assim, a praticarmos os sacramentos, em particular a Eucaristia, que “une céu e terra e nos orienta a ser guardiões de toda a Criação”. Então, “Laudato si”, conclui o Papa Francisco, porque “para além do sol, no final, nos encontraremos face a face com a beleza de Deus”.
A Encíclica foi apresentada à comunicação social nesta quinta-feira dia 18 de junho na Sala Nova do Sínodo pelo Cardeal Peter Turkson, Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, pelo Metropolita de Pergamo, John Zizoulas do Patriarcado Ecuménico e da Igreja Ortodoxa e pelo Prof. John Schellnhuber, fundador e diretor do Instituto de Potsdam para a Pesquisa dos Impactos Climáticos.

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